segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O Reflexo do álcool na educação de jovens e adolescentes

Vou contar-lhe a história de um adolescente chamado Ricardo. Uma história fictícia, mas que poderia ser real. Ricardo tem 18 anos. Ele ingressou no ensino médio aos 15 e, sempre foi um filho carinhoso. Na escola tirou sempre as melhores notas e dizia querer ingressar na faculdade de Direito. Durante o primeiro bimestre do Ensino Médio, alcançou excelente aproveitamento, conquistando o afeto e a admiração da maioria dos seus professores. Foi a partir do segundo bimestre que as coisas começaram a se complicar. Ricardo sempre muito tímido tinha dificuldades para fazer amizades. Mas encontrou um grupo de colegas que prometeram inclui-lo. Esse adolescente e seus amigos passaram a se encontrar diariamente depois das aulas em um dos bares próximos à Escola, dava a desculpa em casa de ir estudar na casa de colega. No início era apenas refrigerante, mas após a insistência e as piadas dos amigos sem que percebesse, começou a ingerir bebida alcoólica, a partir daí, esses encontros tornaram-se sua rotina, transformando em um hábito impossível de ser deixado. A tolerância de Ricardo à bebida foi ficando cada vez maior. Além disso, em casa, seu pai o convidava a beber, pois já acreditava que Ricardo era homem suficiente para “agüentar o rojão”.
Ele passou a ter de ingerir quantidades cada vez maiores de álcool na busca das sensações prazerosas do início. Assim, enquanto seus amigos aos poucos foram deixando de comparecer aos gostosos encontros Ricardo, ao contrário, passou a necessitar daquelas doses antes e depois das aulas e, com o tempo, começaram as dificuldades. As sensações de euforia, liberdade, hiperatividade e coragem que antes incentivam a ingestão de bebidas desapareceram, restando apenas a tristeza, a depressão, a ansiedade, a demotivação, a apatia, seguido de descontrole emocional e sensação de perda e frustação. Suas notas baixaram, ele deixou de comparecer às aulas e repetiu o ano. Em casa tornou-me mais agressivo, impaciente, descuidado com suas coisas, mentia, roubava dinheiro e outros pequenos objetos, entrava e saía sem pedir licença. Seus pais achavam que esse comportamento era normal, apenas uma “rebeldia de adolescente”, mas que logo, logo ele iria amadurecer.
Hoje, quatro anos depois, a turma de Ricardo já concluiu o Ensino Médio, a maioria dos seus colegas ingressou na faculdade ou estão trabalhando. Ele, porém, está vivendo momento de horror, com alucinações e delírios alucinantes, fazendo-o distanciar-se do seu sonho. Magro, abatido e com problemas no fígado, abandonou a escola. Sua família sofre por não saber como ajudar seu filho.
Muitos pais podem pensar que essa história só acontece com o filho do vizinho ou que nada disso poderia acontecer, já que “conhecemos tão bem nossos filhos”. Mas, segundo pesquisas, o uso abusivo de álcool por crianças e adolescentes de 12 a 18 anos tem crescido e, a experimentação dessa substância está acontecendo cada vez mais cedo. Atualmente, estima-se que os jovens ficam bêbados pela primeira vez aos 13,6 anos para meninos e de 13,9 anos para meninas (Escritório Regional Europeu da Organização Mundial, 2001-2002).
Como afastar o álcool da vida de nossos filhos? Provavelmente, a melhor maneira é como amor. Sabe-se que a presença de vínculos afetivos, significativos, entre seus membros, os sentimentos reconhecidos e livremente expressos, a construção de pactos e limites fortalecem o laço de amor e de confiança. Portanto, participe da vida de seu filho, conheça seus os amigos, os pais dos seus amigos, acompanhe-o, saiba com quem sai e a que horas retorna. Estabeleça uma comunicação aberta com seu filho e crie estilo de crítica afetivo, que predomine o estilo compreensivo, mas não seja permissivo ou autoritário, seja sempre firme.
A escola lócus do saber sistematizado precisa reconhecer que além de garantir o acesso a informação tem que promover a formação de valores. Contudo, vale salientar que a escola sozinha não dá conta. A família tem a responsabilidade de educar, ensinar as primeiras noções de valores. Daí a importância de a família estabelecer uma parceria com a escola e vice-versa. Quais medidas podem ser tomadas por educadores para estimular uma relação saudável dentro da escola para reduzir e evitar o alcoolismo? Pais que participam da vida escolar do seu filho, acompanham sua frequência, demonstram interesse pelo que ele gosta e faz, têm filhos com melhores desempenhos escolares. Escolas que desenvolvem projetos educativos-sócio-culturais, reserva espaços para discussões, diálogos e debates sobre temáticas de interesse dos jovens e adolescentes garantem a sua permanência e a freqüência na escola. Vale ressaltar que em ambos os casos é indiscutível a importância do exemplo para o educando.
Nós nos preocupamos muito com o uso de drogas na adolescência, no entanto nos esquecemos que o álcool também é uma droga que é bem mais disponível. Apesar de reconhecer que o álcool é uma substância capaz de nos proporcionar bem-estar e alegria, alerto para que seja utilizado com consciência e responsabilidade. Ao contrário de Ricardo, que não percebeu os riscos que corria, e nem obteve a orientação necessária para evitá-la, cada um de nós devemos atentar-nos para os próprios limites e, pedir ajuda quando reconhecer que está doente.
Proponho-me nesse instante chamar a atenção de pais, professores e comunidade para os efeitos e consequências que a permissividade e a facilidade do álcool podem causar. Por isso, é imprescindível que fiquemos atentos a rotina de nossos filhos e que tomemos os cuidados necessários para o que dizemos ou fazemos, para que sejamos exemplo na vida deles.



Esse texto foi apresentado na I Semana de Informação Pública - Alcoolismo, doença da Família- 30/09/2009.* Patrícia Maria Paula Santos D’Ávila Pires, Pedagoga, Esp. em Psicopedagoga, Planejamento Educacional e Gestão e Educação Ambiental, Professora do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciencias Educacionais e Coordenadora Pedagógica do Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, em Santo Antonio de Jesus/BA.